segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Dez anos de poder

Chávez completa dez anos no poder com aposta em referendo

Cláudia Jardimde - Caracas para a BBC Brasil


Chávez participou de evento da campanha pelo referendo no sábado
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, completa dez anos no poder nesta segunda-feira com as atenções voltadas para o dia 15 de fevereiro, quando os venezuelanos decidirão em um plebiscito se aprovam o fim do limite à reeleição para cargos públicos, entre eles a Presidência.
O governo declarou feriado nesta segunda-feira para celebrar o aniversário de uma década, e anunciou que poderia impor sanções administrativas a empresários que não cumprirem a determinação. A medida provocou críticas por parte de empresários da oposição, segundo a imprensa local.
Na avaliação de analistas ouvidos pela BBC, o chavismo passará pelo teste das urnas em fevereiro debilitado pela centralização de poder nas mãos do presidente, já que a base governista e o próprio Chávez consideram que não existe substituto capaz de dar continuidade ao projeto de socialismo chavista.
“Se depois de 14 anos da chegada de Chávez ao poder (período após a conclusão do segundo mandato) não há uma liderança substituta e o processo revolucionário depende ainda dele é sinal de uma extraordinária debilidade em relação à organização e transformação da sociedade”, afirmou o sociólogo Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela (UCV).
“Obviamente o que aconteceu na Venezuela não teria ocorrido sem ele, mas ao mesmo tempo Chávez é o limite do processo venezuelano, da democratização, de tudo”, acrescentou.
"Chávez é a instituição"
Na opinião do historiador venezuelano Miguel Tinker Salas, professor de História Latino-americana da Pomona College, da Califórnia, essa debilidade pode significar inclusive, o fim do chavismo.
“Processos políticos que não conseguem desenvolver uma liderança diversificada e que não conseguem institucionalizar o processo de mudanças se desgastam e podem ser facilmente suplantados”, afirmou.
O presidente venezuelano tem mostrado nos últimos anos que é ele quem determina das decisões macroeconômicas às de menor importância na vida pública.
Para o general Alberto Müller Rojas, vice-presidente do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Chávez se transformou "numa instituição", diante do desmantelamento das instituições do país ao longo da última década .
“Aqui não há instituições, elas se desmantelaram, ninguém as tombou. Os sindicatos não existem, os partidos políticos não existem, a Igreja não existe, não há instituições que agreguem e quando não há, surge um líder e ele é a instituição”, afirmou Müller Rojas.
Para o sociólogo Edgardo Lander, no entanto, a situação é mais complexa. Ele afirma que o estilo de liderança do presidente impossibilita o surgimento de um líder alternativo a ele.
"Há um ausência de crítica e autocrítica. Há uma espécie de autocensura dos que rodeiam o presidente porque querem se manter ali (no governo). Então, o presidente está rodeado de gente que nunca lhe diz nada", afirma Lander.
Tensão
A disputa pela aprovação ou não da reeleição no referendo é tensa. Se a tendência dos pleitos anteriores se repetir, a polarização entre partidários e opositores de Chávez deve garantir uma alta participação de simpatizantes dos dois grupos, que se vêem desafiados a mostrar sua vontade também nas urnas.
A última pesquisa de intenção de voto realizada pela empresa Datanálisis, divulgada na última semana, mostra uma pequena vantagem do governo.
De acordo com a Datanálisis, 51,5% dos venezuelanos apóiam o fim do limite a reeleição, enquanto 48,1% rejeitam a proposta. O estudo tem margem de erro de 2,72%.
É o tudo ou nada. Se o chavismo perde, é o começo do fim.

Edgardo Lander, sociólogo
"É o tudo ou nada. Se o chavismo perde, é o começo do fim", afirma Edgardo Lander.
O analista político Javier Biardeau, também da Universidade Central da Venezuela, concorda.
Na opinião dele, uma vitória do "não" no referendo seria o equivalente a um referendo revogatório do mandato presidencial e instauraria um período de crise política, motivada tanto pelos chavistas quanto pelos opositores.
"Se o governo perder, no interior do chavismo haverá uma disputa política para ver quem será o substituto de Chávez. Do outro lado, a oposição poderia aproveitar a derrota do governo para tentar um referendo revogatório para antecipar a saída de Chávez", afirma.

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