quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A grade campeã do carnaval - SALGUEIRO

Após 16 anos, Salgueiro conquista a glória no Carnaval do RIo

Bruna Talarico e Fernanda Thurler, Jornal do Brasil

RIO - Repique, tamborim, surdo, caixa e pandeiro devolveram ao Salgueiro – e à Zona Norte da cidade – o título máximo do Carnaval carioca. Depois de 16 anos de jejum, um desfile fez a Sapucaí tremer ao ritmo do Tambor da Furiosa (como é chamada a bateria da vermelho-e-branca), na madrugada de terça-feira. A escola de samba da Tijuca levou para casa, além do troféu de campeã do Grupo Especial, a vantagem homérica de um ponto sobre a segunda colocada, a Beija-Flor de Nilópolis, consagrada com seis dos últimos 10 títulos.
– Desde 1993 estávamos esperando, e agora o Salgueiro é novamente campeão. Nada melhor do que levar o título e, além disso, ter uma margem de vantagem tão grande – reforçou Quinho, intérprete do samba que fez a Sapucaí toda cantar a história do tambor e também levantou a Avenida no último título da escola, com o enredo Peguei um Ita no Norte. – Meu coração foi o próprio tambor, só que bate descompassado desde o desfile na Avenida. E foi lá que a gente ganhou esse Carnaval.
A cada nota 10 anunciada – e foram 32 ao longo da apuração na tarde desta quarta-feira no Sambódromo – a mesa onde a cúpula da agremiação se reunia para acompanhar o resultado tremia, vibrava e oscilava entre risos e lágrimas na mesma medida em que constatava a distância que se formava entre Salgueiro (1º lugar, com 399 pontos) e as outras duas favoritas. Além da Beija-Flor (2º lugar, com 398), Portela (3º lugar, com 397,9) e Vila Isabel (4º lugar, com 397,6) também eram fortes candidatas ao título.
– A comunidade confiou em mim a presidência da escola e, agora, esse é o meu presente para ela – disse Regina Durán, há um ano presidente do Salgueiro, enquanto abraçava, muito emocionada, outros membros da diretoria logo após o anúncio da última nota. – É uma grande vitória. O Salgueiro e o Brasil esperavam muito esse título. Aqui somos todos uma grande família, e eu não fiz nada sozinha.
Com a responsabilidade de definir o vencedor em um eventual empate, o mestre-sala Ronaldinho e a porta-bandeira Gleice Simpatia contavam cada ponto que a tijucana somava. Apesar de a vitória estar praticamente garantida – o título foi festejado na quadra antes mesmo do anúncio oficial – o casal acompanhou com ansiedade o término da apuração e a perda de um décimo na categoria que representaram.
– Agora é esperar a justificativa dos jurados para essa perda, e aí consertar no próximo ano – resumiu Gleice, de bandeira em punho e mãos dadas com seu parceiro de Carnaval. – Mas a gente conseguiu. Agora é só alegria.
A rainha de bateria Viviane Araújo, que desfilou acompanhando a Furiosa de tamborim em punho e chegou a machucar o ombro durante a passagem do Salgueiro pela Sapucaí, não soltava as mãos da presidente da escola, Regina Durán.
– É um momento único, inexplicável – dizia, chorando. – Já são 15 anos que eu desfilo na avenida, e é a primeira vez que sou campeã. Mas o mais legal de tudo, no fundo, é ver que as outras escolas concordaram com o nosso título. Isso sim é ser vencedor.
Segundo-lugar com classe
Na Beija-Flor, a decepção bateu quando foram abertos os envelopes que avaliaram o enredo. A escola de Nilópolis perdeu nove décimos apenas neste quesito. As notas 10 que a agremiação recebia não eram comemoradas. Na mesa da diretoria, a esperança estava na voz de Neguinho da Beija-Flor.
– Quero ver quando a banana começar a comer macaco e o poste começar a fazer xixi no cachorro. Tudo é possível – dizia o intérprete no momento em que a escola amargurava a terceira colocação.
O clima de confiança surgiu apenas na metade da apuração, quando a Vila Isabel também perdeu nove décimos no quesito samba-enredo e a Beija-Flor marcou quatro notas 10, passando para o segundo lugar. Dali para a frente, o objetivo era secar a escola adversária. A desvantagem chegou a cair para sete décimos, mas a então bicampeã não conseguiu tirar a diferença que, no final, chegou a um ponto.
– Eu perdi o Carnaval no enredo. Como vou recuperar nove décimos em um desfile parelho desses? – lamentou o presidente da Beija-Flor, Farid Abrahão David. – Não estou chorando porque é um julgamento subjetivo, mas o Salgueiro fez um grande desfile, acho que é merecedor.

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