sábado, 31 de janeiro de 2009

A hora dadecisão

Sarney tem favoritismo apertado

Raphael Bruno, JB Online

BRASÍLIA - Para o Senado, este será o mais longo fim de semana dessa legislatura. E é neste intervalo que o senador José Sarney (PMDB-AP) enfrentará o teste de fôlego político que será manter a vantagem numérica de dez votos que lhe confere a posição de favoritismo absoluto à presidência da Casa.
Levantamento feito pelo Jornal do Brasil somava 45 votos para o peemedebista. Seu oponente, Tião Viana (PT-AC) conta com 35 votos declarados. A reportagem entrevistou na sexta-feira, por telefone, 30 parlamentares de legendas que fecharam questão por um dos candidatos. Outros 30 foram ouvidos desde a entrada de Sarney na disputa. Os demais 21 senadores fazem parte das forças-tarefa de cada postulante à presidência da Casa e, até onde foi apurado, não teriam motivos para votar contra a orientação de suas legendas.
A vantagem matemática, contudo, está longe de se traduzir em uma vitória garantida para Sarney. A adesão da bancada tucana, com 13 senadores e duas prováveis defecções, ao candidato petista alterou a balança da contenda. O PSDB, sob as bênçãos do governador de São Paulo, José Serra, conseguiu nos últimos momentos do recesso parlamentar se transformar em um elemento de peso no tabuleiro da disputa pelo comando do Senado. E a campanha de Sarney não tardou a acusar o golpe pela decisão, anunciada de surpresa por volta da meia-noite de ontem, quando tinha-se como certo o apoio tucano a Sarney.
– Fizemos a opção que consideramos ser a melhor e mais adequada para o Legislativo – disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). O pleito por cargos para a legenda, negado por Sarney, foi decisivo para a decisão.
Em troca do apoio, os tucanos exigiram – entre outros detalhes, como a presidência das comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Relações Exteriores (CRE) – o compromisso de independência em relação ao Executivo, a devolução sumária de medidas provisórias cujo caráter de “urgência e relevância” seja duvidoso e a rejeição a um possível terceiro mandato de Lula. Sarney recusou-se a assinar o documento. Tião Viana firmou-o de pronto.
Instalou-se no quartel-general da campanha de Sarney o temor por uma eventual virada de casaca do Palácio do Planalto, uma vez que o embarque tucano deu fôlego à candidatura petista. O senador Gim Argello (PTB-DF), um aguerrido articulador da campanha de Sarney, chegou a levar a carta assinada por Viana ao Planalto, como um alerta ao potencial do petista de causar problemas para o governo nos dois últimos anos do mandato de Lula – e em meio a uma crise econômica que deve exigir movimentos rápidos do governo no Congresso. No discurso público, contudo, a ordem é demonstrar segurança com a vantagem de Sarney.
– O PSDB é um partido de expressão no Congresso, mas quanto à conta dos votos não faz muita diferença – minimiza Roseana Sarney (PMDB-MA), que passou a sexta-feira reunida com o comando da campanha de seu pai, avaliando o novo cenário da disputa.
O grande medo
“Traição” tem sido a palavra mais repetida entre os membros do Senado nos últimos dias que antecedem a eleição para o comando da Casa e divisões internas dentro das legendas são campo fértil para as temidas traições, algo que, é consenso, deve ocorrer dos dois lados da batalha. O medo diante da possibilidade de defecções produziu sucessivas reafirmações de apoio. PR e PSB divulgaram notas oficiais declarando apoio fechado ao candidato petista, que conta com dissidências no próprio partido de Sarney, o PMDB.
– Temos mais chances do que se imagina, vamos ter um mapa definitivo no domingo – afirma o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), partidário de Viana, que inclui em seus cálculos a expectativa de ao menos cinco votos dentro do PMDB.
Nada que seja assumido pela legenda de seu oponente, que conta com ao menos um indeciso: Pedro Simon (RS), afirma que vai esperar até o último minuto antes de votar para decidir seu apoio. O petista, contudo, também enfrenta problemas em seu grupo de apoio. Os tucanos Álvaro Dias (PR) e Papaléo Paes (AP), por exemplo, são votos declarados em José Sarney. Do outro lado da trincheira, o PTB declarou voto fechado em Sarney depois de longa discussão interna. Mas conta, em suas fileiras, com simpatizantes de Tião Viana.

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