terça-feira, 21 de abril de 2009

Mudança de gestos

A ofensiva da simpatia

Bruno Garcez

Barack Obama ainda não ofereceu nenhuma ação de peso em relação à América Latina.
Mas adotou pequenos gestos que poderão influir decisivamente na percepção que os latino-americanos têm do país comandado por ele.
Trata-se, principalmente, de uma mudança de tom.
Em vez de fingir que Hugo Chávez não exisitia, como fazia a Casa Branca no período de George W. Bush, quando funcionários do governo nem mesmo mencionavam o nome do líder venezuelano, Obama trocou apertos de mão e até ganhou um presente do outroro algoz americano, durante a mais recente Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago.
O brinde oferecido por Chávez foi o clássico As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, que, por sinal, já virou best-seller.
Passados os apertos de mão e sorrisos de ambas as partes, Chávez já anunciou que a Venezuela voltará a ter um embaixador em Washington.
Ainda assim, houve gente nos Estados Unidos que criticou com veemência o gesto do presidente.
Para Newt Ginrich, ex-líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Obama ''deu impulso aos inimigos americanos''.
Outros senadores da oposição, Judd Gregg, de New Hampshire, e John Ensign, de Nevada, consideraram a ação de Obama ''irresponsável''.
Na cúpula, o líder americano também se reuniu com outros líderes com os quais os Estados Unidos vêm tendo problemas, como o boliviano Evo Morales e o equiatoriano Rafael Correa.
E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou que os americanos visitem asim que possível os países da região com os quais os americanos vêm tendo relações conturbadas.
Obama foi ao encontro com a mensagem de que estava lá para ouvir. Ele não fez nenhum anúncio bombástico em relação à região, seja para o bem ou para o mal.
Mas pequenos gestos feitos antes e durante o encontro já fizeram alguma diferença.
Poucos dias antes da reunião, ele anunciou o fim de restrição de viagens a Cuba por parte de cubano-americanos e do envio de remessas.
Em contrapartida, o presidente cubano, Raúl Castro, disse estar disposto a discutir de tudo com os americanos, desde direitos humanos e presos políticos até liberdade de imprensa.
Analistas já enfatizaram por diversas vezes que a América Latina não é e nem deverá ser uma prioridade na política internacional americana.
Mas a ofensiva de simpatia de Barack Obama talvez sirva, ao menos, para tornar a relação entre americanos e seus vizinhos mais harmoniosa, independentemente do que dizem os críticos americanos.

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