Mais de 20 milhões de sul-africanos vão às urnas nesta quarta-feira para decidir quem governará o país pelos próximos cinco anos. Jacob Zuma, candidato do Congresso Nacional Africano - partido que mantém a hegemonia na política sul-africana há 15 anos -, lidera as pesquisas para suceder o atual presidente Kgalema Motlanthe.
No último comício de Zuma antes das eleições, realizado no domingo, o CNA lançou mão de seu maior trunfo. Aos 90 anos, Nelson Mandela apareceu ao lado de Zuma, surpreendendo as mais de 60 mil pessoas que foram ao estádio Ellis Park, em Johanesburgo.
Mesmo com saúde frágil, o maior símbolo da luta contra o Apartheid (regime de segregação racial que perdurou por mais de 40 anos na África do Sul) foi manifestar seu apoio a Zuma em um momento em que o candidato enfrenta muitas críticas por suspeitas de corrupção - ele foi acusado de ter recebido dinheiro em uma negociação de venda de armas quando era vice-presidente do país, em 2005.
Há duas semanas, a Promotoria Geral retirou todas as acusações, alegando manipulação no processo para prejudicar Zuma. A decisão causou a indignação da oposição.
"Enquanto Zuma não for julgado haverá sempre uma nuvem de suspeitas sobre ele" afirma Helen Zille, líder da opositora Aliança Democrática, que espalhou cartazes pelo país com os dizeres "Pare Zuma".
Intenção de votos
No poder desde 1994, quando elegeu Nelson Mandela, o CNA deve conquistar cerca de 65% das cadeiras do Parlamento, segundo pesquisa do instituto Ipsos Markinor, publicada na última semana, e terá o direito de indicar Jacob Zuma à Presidência.
A Aliança Democrática, com 11% nas projeções, e o Congresso do Povo, com 9%, lutam para evitar que o CNA leve dois terços dos votos e assim tenha poder até para mudar a Constituição.
O Congresso do Povo (COPE), partido criado no fim do ano passado por dissidentes do CNA, também tenta ganhar votos do CNA questionando a honestidade de Zuma.
"Os líderes do partido governista ganham tratamento especial, só os pobres têm que enfrentar a justiça. Estamos cansados de eleger políticos que ganham bons salários, mas continuam roubando o nosso dinheiro", acusou Mosiuoa Lekota, presidente do COPE, no último comício do partido.
Mesmo com grande favoritismo para vencer as eleições, o CNA enfrenta seu momento mais delicado desde que assumiu o poder, em 1994, com Nelson Mandela.
Depois de dois mandatos consecutivos de Thabo Mbeki, a aprovação do governo despencou de 75%, em 2004, para apenas 52%, em novembro passado. Além disso, Mbeki e Zuma, antigos aliados, brigaram, causando o racha que originou o COPE.
Com isso, dificilmente o CNA repetirá o desempenho das eleições passadas, quando conquistou 70% das vagas no Parlamento.
O CNA é criticado pela minoria branca (quase 10% da população) por causa de suas políticas afirmativas que beneficiam apenas os negros (cerca de 80% do povo), e Zuma ainda teve sua imagem arranhada em 2005, quando foi acusado de estupro.
Ele foi inocentado, mas provocou revolta em parte da população ao admitir ter tido relações sexuais sem proteção com uma mulher que ele sabia ser HIV positivo - a África do Sul é líder no número de casos de AIDS no mundo, com cerca de 5,7 milhões de infectados.
"Esta é a eleição mais interessante na África do Sul desde a de 94 porque o CNA enfrenta muitos problemas de corrupção e tem uma oposição mais forte. Além do mais, com o passar dos anos, o discurso do partido de que ele lutou pelo fim do Apartheid perde um pouco da força, as pessoas começam a se interessar mais por empregos e serviços" disse à BBC Brasil a cientista política Yolanda Sadie.
Mas Zuma discorda das previsões, que considera "pessimistas", e garante que o CNA "nunca foi tão popular". De fato, o partido ainda tem grande influência sobre a população negra do país - segundo a pesquisa do Ipsos Markinor, 79% dos eleitores negros vão votar no CNA.
Figura carismática, Zuma alegrou seus fiéis eleitores no comício do último domingo ao arriscar vários passos de dança. Depois, durante o discurso, prometeu que trabalhará para diminuir as desigualdades sociais, o desemprego (por volta de 23%) e que respeitará a Constituição.
"Nós governamos com responsabilidade e sempre defenderemos e protegeremos nossa Constituição. Quero reafirmar nosso compromisso de respeito à independência do poder judiciário e às leis" afirmou Zuma.
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