segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Estadista

Por: Vicente Golfeto

Joaquim Nabuco disse, logo após 13 de maio de 1888: “acabamos com a escravidão. Agora precisamos acabar com a obra da escravidão”. José Bonifácio tinha dúvida a respeito da emancipação política do país exatamente porque nós não havíamos – ainda – resolvido duas questões: a do índio e a do negro.Ambos eram estadistas sem serem ou terem sido chefes de Estado. Porque há, também, chefes de estado – e são muitos, a maioria mesmo – que não são estadistas. Estamos enfrentando, até os dias de hoje, as duas questões, sempre aumentadas por interesses externos. Com a população brasileira em geral – com algumas exceções – uma realidade está nos marcando: formamos, não um país de escravos – a escravidão desapareceu com ato de estado, com a lei Áurea – mas de mendigos. E mendigos de todos os tipos e faixas de renda. Temos mendigos miseráveis, pobres, da classe média e ricos. Sim, mendigos ricos. Porque vivemos pedindo favores ao setor estatal.Cada um pede o de que necessita. Pedimos justiça, cumprimentos de lei, emprego, casa popular, plantio de árvore, limpeza de rua, pavimentação asfáltica, saúde, rede de esgotos, escola, energia elétrica, bolsa de estudo. Os mais ricos pedem financiamentos para produção, concessão de serviços públicos, aumento de verba, pagamento de fatura por serviços e mercadorias vendidos ao setor estatal. Tudo. É esta mentalidade de mendicância que precisamos combater. Fomos da escravidão – parte da sociedade – para a mendicância. Um líder verdadeiro, aquele que de fato libertaria o povo desta dependência humilhante, mostraria que uma nova geração pode captar esta realidade e, mentalizando, formar consciência de mudança drástica.Em grego é enigma. Em latim é conundrum. Significa algo que não foi entendido. Mas já entendemos tudo. Muitos estadistas entenderam. Mas não chegaram – como Nabuco e Bonifácio – a ser chefe de Estado.
Fonte: Jornal A CIDADE - Ribeirão Preto/SP

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