Folha de São Paulo - Kennedy Alencar
Quando o Ministério da Fazenda quis reduzir o prazo de financiamento de carros usados, no início deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo. Disse ao ministro Guido Mantega que o cidadão que compra um carro usado em 84 meses não podia pagar o pato da crise e que ele não seria o presidente a melar o sonho de pessoas que compravam um carrinho pela primeira vez. A coisa não prosperou.
De lá para cá, o ambiente econômico piorou. E o governo tem uma grande preocupação no gerenciamento da crise: o chamado "subprime Pacheco".
O que é isso?
É como o mercado vem chamando os financiamentos de carros usados mais antigos realizados em prestações a perder de vista (60 meses, por exemplo). Pacheco une as primeiras sílabas de Passat, Chevette e Corcel, carros antigos que simbolizam o consumo de automóveis da nova classe média, justamente um público que melhorou de vida nos anos Lula. Nessa categoria de veículos, também, estão incluídos Tempras, Santanas e Escorts.
Dados econômicos dos últimos dias emitiram sinais de alta da inadimplência no setor de automóveis. O Palácio do Planalto está preocupado com as condições para que os consumidores possam continuar a pagar os seus financiamentos. Lula gostaria de ajudar diretamente esse pessoal.
Auxiliares do presidente que fizeram sondagens no mercado constataram o risco do "subprime Pacheco". Como o bem perde valor ao longo do tempo, ele deixa de ser uma boa garantia para o crédito. A situação piora quanto mais velho for o carro.
Nas negociações entre bancos para compras de carteiras de crédito de veículos, o deságio e o expurgo mostram a falta de qualidade na concessão desses empréstimos. Na hora da bonança, o cadastro foi relegado ao segundo plano. Nesse sentido, há semelhança com o "subprime" americano, estopim da atual crise financeira internacional. Nos Estados Unidos, chama-se "subprime" os créditos de segunda linha e de alto risco.
Há uma diferença entre os EUA e o Brasil. Lá, o setor imobiliário responde por uma parcela da economia muito superior ao peso do mercado de veículos na economia tupiniquim. No entanto, é um problema da economia real e de uma faixa da população que está ligada diretamente à boa aprovação de Lula. Trata-se também de um sinal de que o pior da crise não passou. O prognóstico de gente importante no governo é o seguinte: 2009 será um ano bem difícil.
domingo, 16 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário