domingo, 30 de novembro de 2008

A Política do Fundamentalismo Islâmico

O fundamentalismo islâmico, que de fato nunca deixou de existir, ascendeu no cenário político do Oriente Médio a partir da Revolução Xiita no Irã, em 1979.
O Movimento dos aiatolás foi visto como uma grande mobilização das energias islâmicas adormecidas pela presença da modernidade.
A sua repentina aparição deveu-se em grande parte pelo fracasso político dos estados seculares árabes em dar um combate eficiente ao Estado de Israel - visto como o grande inimigo político e teológico - e retirar seus países da situação de imobilismo econômico.
Da mesma forma que os fundamentalistas cristãos, os islâmicos consideram como sua política básica o retorno às leis corânicas, ao espírito da leis das Sagradas Escrituras do profeta Maomé. Os costumes ocidentais resultam da perversão.
A modernidade é o império de Satã, que utiliza instrumentos sedutores (a música, a bebida, as boas roupas, os automóveis caros, etc.) como uma maneira de envilecer a pureza dos verdadeiros muçulmanos.Seu ideal político é a implantação de uma República Islâmica, um regime teocrático que seja a tradução literal da charia, das antigas leis corânicas inspiradas diretamente na vontade do profeta.
O chefe real deste governo é Alá, sendo que os imãs e os mulás, e demais guias religiosos, apenas o representam e interpretam sua vontade. Isto os coloca em oposição a maioria dos governos do Oriente Médio que são republicas seculares, governadas por militares (Mubarak no Egito, Saddan Hussein no Iraque, Kadafi na Líbia, e Zeroual na Argélia, etc.).
A hostilidade deles, dos fundamentalistas, a estes governos seculares aumenta por duas razões: por estarem abertos perigosamente ao exterior e aos costumes ocidentais (considerados demoníacos) e por manterem relações não-beligerantes com Israel (se conciliadoras, passam a ser vistos como inimigos).No que cabe aos costumes, os fundamentalistas advogam o radical e urgente rompimento com tudo o que lhes pareça “ocidental”. As mulheres devem voltar a usar o chador ou o burka, não devem receber instrução, nem serem atendidas por médicos homens.
O ensino em qualquer nível deve priorizar o religioso e as leis comuns devem acolher as regras corânicas (açoite ou lapidação para os adúlteros, execuções publicas acompanhadas de chibatadas, etc.).Socialmente pode-se dizer que eles expressam os sentimentos dos setores mais pobres e mais desesperançados das comunidades do Oriente Médio, gente majoritariamente analfabeta que vive nos grandes suburbios afavelados, nos campos ou nos desertos e que leva uma vida dura, sem alegrias e sem confortos.(*) evidentemente que eles não se denominam de fundamentalistas, ‘usüliyya em árabe, mas sim de mujähidün e de defensores da jihad, a guerra santa. Os seus adversários por sua vez os chamam de mutatarrifiün.Para combater a liberdade de expressão, não reconhecida no direito islâmico, os chefes religiosos lançam mão da fatwa (uma sentença religiosa) que pode condenar a morte o infrator.
O intelectual ou escritor que redigir uma novela ou algo considerado blasfemo ou herético está sujeito a ser morto por qualquer seguidor da fé. Este estará seguro de não ter cometido um crime porque ele foi feito em nome da pureza do Islã.
Centenas de jornalistas, intelectuais e pensadores leigos, especialmente no Egito e na Argélia, estão com suas vidas ameaçadas devido a pena da fatwa.
O caso mais exemplar é o que foi aplicado contra o escritor anglo-oriental Selman Rushdie, que tem há dez anos sua cabeça à prêmio.Desde a queda da URSS (potência atéia) os fundamentalistas tornaram os Estados Unidos o seu principal inimigo.
A super-potência americana representa tudo o que eles abominam; a liberação dos costumes, a liberdade sexual, a emancipação feminina, o culto à modernidade e a celebração da tecnologia. E, evidentemente, a pratica democratica num estado secular.Além de serem uma ameaça permanente a peculiar cultura tradicional da região, os Estados Unidos, ao apoiar intransigentemente a política de Israel, seja ela dos Trabalhistas ou a do Likud, viram-se alvo de atentados.
A presença dos seus soldados no solo sagrado do Islã, no Kuwait e na Arábia, marcante desde a Guerra do Golfo de 1991, faz com que os fundamentalistas voltem seus ataques para suas guarnições e,agora, para suas embaixadas (o ataque à embaixada americana de Nairóbi no Quênia possivelmente deveu-se a ela abrigar a maior central de informações da CIA na África).
Metaforicamente podemos entender este enfrentamento, entre os fundamentalistas e os Estados Unidos, como um conflito ente dois mundos opostos, o do Islã tradicional e do Cristianismo modernizado, mas igualmente como o choque, talvez o último do século 20, entre a modernidade e a tradição, entre a vida regrada pela tecnologia e o modo pré-tecnológico de viver. A reação dos fundamentalistas é acima de tudo o repúdio de uma cultura milenar que resiste ao processo de ocidentalização. Aliás, a única que assim ainda o faz.

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