quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O pré-sal fica adiado

Até mesmo na área do governo o debate até há pouco intensamente estimulado pelas autoridades sobre as vantagens da exploração do petróleo da camada de pré-sal começa a ser pautado pela realidade. Ainda há poucos dias, membros do governo prenunciavam para o futuro próximo a transformação do Brasil num dos maiores produtores de petróleo do mundo e falavam com entusiasmo sobre a destinação que dariam ao dinheiro que seria obtido com a exploração do petróleo do pré-sal. Lenta e relutantemente, o governo vai tendo uma noção mais precisa da amplitude da crise global e dos seus efeitos sobre os grandiosos projetos oficiais. A Petrobrás, que adiara o anúncio, de setembro para dezembro, de seu plano de investimentos para o período de 2009 a 2013 - a empresa atualiza anualmente o seu orçamento qüinqüenal - já admite que terá de diluir seus gastos num prazo mais longo, talvez até 2020.O plano deve incluir os investimentos nas áreas de pré-sal. São muitas as dificuldades que precisam ser enfrentadas para colocar em operação comercialmente viável as reservas localizadas sob a camada de sal, que se encontra vários quilômetros abaixo do nível do mar. Complexos são também os cálculos dos custos financeiros da inédita exploração do petróleo nessas condições.A crise global dificultou ainda mais o que já era difícil, pois reduziu a disponibilidade de capitais no mundo e provocou grandes oscilações no preço do petróleo. O plano da Petrobrás em vigor prevê investimentos de US$ 112 bilhões entre 2008 e 2012, dos quais US$ 104 bilhões com recursos próprios. Os novos projetos de refinarias e de exploração do Campo de Tupi elevam os investimentos desse período para US$ 163 bilhões. A inclusão das aplicações necessárias para o desenvolvimento das reservas do pré-sal onerará ainda mais a nova versão do plano de investimentos.Nos últimos anos, as empresas petrolíferas tiveram de aumentar muito os investimentos em pesquisa e exploração, porque os novos campos estão em áreas mais difíceis de ser exploradas e os custos de aluguel e compra de equipamentos de perfuração subiram. Em julho, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que os custos de exploração dificilmente cairiam no futuro, razão pela qual o mundo deveria se acostumar a conviver com os preços altos do petróleo.Mas, além de ter dificultado enormemente a captação de recursos no exterior - em sua última captação, a Petrobrás pagou 5,875% ao ano; atualmente, não se capta por custo inferior a 10% ao ano, e os valores oferecidos são bem menores -, com a crise o preço do barril de petróleo despencou. Em julho, chegou a ser negociado a US$ 147; nessa semana, chegou a US$ 63.Governos cujos orçamentos dependem do petróleo - como o de Hugo Chávez, da Venezuela, onde o petróleo responde por mais de 90% das receitas com exportações e por cerca de metade da arrecadação tributária - começam a enfrentar sérias dificuldades por causa da queda do preço do produto. Empresas que programaram investimentos e projetaram seus rendimentos com base em cotações altas estão refazendo seus planos.Na semana passada, Gabrielli admitiu que, com o petróleo a US$ 70 o barril, os produtores considerados marginais, que entraram no mercado atraídos por preços muito altos, começam a se afastar. Não é esse, garantiu, o caso da Petrobrás, que não teria seus planos prejudicados com a cotação do óleo nesse nível. O plano de investimentos, de acordo com a direção da empresa, é balizado pela cotação a US$ 35 o barril - preço de produção, incluídos custos de financiamento, não de venda.Esse pode ser um valor que viabiliza os planos da empresa para sua operação nas condições já conhecidas. Mas qual é a cotação mínima que permite à Petrobrás explorar, em condições econômicas e financeiras viáveis para seus acionistas e para o País, a camada de pré-sal, cujas dificuldades e custos são desconhecidos? Os estudos sobre custos e viabilidade da exploração da camada de pré-sal feitos até agora por empresas privadas partem do valor mínimo de US$ 70 o barril.
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