terça-feira, 28 de outubro de 2008

Derrotismo invade as fileiras republicanas

Antonio Caño - Washington

Esta campanha eleitoral possivelmente passará para os livros de história como uma das mais transcendentais já realizadas nos EUA. Mas, faltando pouco para o final, se dissipou toda a emoção, fora a natural expectativa para conhecer o resultado final. O candidato democrata, Barack Obama, está junto do leito de sua avó doente, a 4 mil km do continente. E o candidato republicano, John McCain, sem nada original a acrescentar a uma mensagem pobre e equivocada, parece resignado à derrota.Como exemplo, basta ver que o melhor prato que tinham a oferecer as redes de televisão de notícias 24 horas na sexta-feira era um discurso de Sarah Palin, a companheira de chapa de McCain, sobre crianças com problemas.Quem sabe se será um indício o anúncio feito pela campanha de McCain de que o candidato pronunciará seu tradicional discurso da noite eleitoral em Phoenix, só diante de um seleto grupo de jornalistas e uma platéia restrita. Não haverá o tradicional pronunciamento em um pódio.Depois da deserção declarada por Colin Powell e outras personalidades da direita, a mídia registra um estado de estampido entre as fileiras do Partido Republicano, cujas principais figuras assumem a derrota do líder e buscam seu próprio refúgio. "Chegou o momento em que cada um tem de buscar a vida por sua conta", descreveu a situação um dirigente conservador para o jornal "The Politico".As censuras contra McCain se acumulam dentro do partido, tanto dos que o criticam por sua péssima campanha - hesitante, impessoal -, como dos que o acusam de ter posto George Bush aos pés dos cavalos da história. Sua última entrevista, na quinta-feira no "The Washington Times", na qual responsabilizou o atual governo pelo "absoluto descontrole" da política econômica e da política externa, lotou a paciência dos que temem que os republicanos depois de 4 de novembro fiquem divididos, desprestigiados e sem uma liderança em torno da qual se reorganizar.Poucas vozes relevantes são escutadas em apoio a McCain. Charles Krauthammer, que na sexta-feira prometeu "naufragar no mesmo barco que McCain", é uma exceção. Outros colunistas conservadores se limitam a atribuir à imprensa e sua suposta parcialidade a favor de Obama parte da culpa pelo fracasso que vêem se aproximar.Logicamente, as pessoas do círculo íntimo da campanha tentam levantar o moral de suas tropas. Steve Schmidt, o homem que puxou os cordões de McCain nos últimos dois meses, reconheceu na sexta-feira que "é preciso percorrer um longo terreno, mas ainda podemos conseguir". "Estamos na mesma posição em que estava Al Gore há oito anos a uma semana das eleições", afirmou Schmidt.As circunstâncias, em todo caso, não são as mesmas. Hoje as pesquisas não só dão uma ampla vantagem a Obama - 13 pontos na da CBS/The New York Times, mais de 7 pontos na mídia diária do site Real Clear Politics - como detectam algumas conquistas históricas do candidato democrata.Obama supera McCain entre os eleitores brancos e está empatado com ele entre os homens dessa raça, um setor no qual um democrata não ganha há 60 anos. Obama supera seu rival praticamente entre todos os grupos: homens e mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres, urbanos ou rurais, universitários ou não, casados ou não. Ele ganha entre os eleitores moderados e em todas as regiões do país, exceto no sul, onde o racismo sobrevive com mais força. Também ganha entre os católicos e os judeus. Os únicos grupos em que McCain está à frente, segundo a pesquisa do "New York Times", são os protestantes, os evangélicos, os republicanos e os conservadores. Mas 23% destes últimos também preferem Obama.John McCain confia em sua lenda de Lázaro, mas já não tem argumentos para reverter essas pesquisas em pouco mais de uma semana. "Neste momento da campanha as únicas esperanças de McCain estão em acontecimentos fora de seu controle", afirmava na sexta-feira "The New York Times", que pediu o voto para Obama em seu editorial.McCain tenta conter a hemorragia de votos fazendo campanha intensamente nos estados que sempre votaram republicano e que hoje estão vacilantes. Na sexta-feira, em um deles, Colorado, repetiu o argumento dos últimos dias de que Obama aumentará os impostos e distribuirá a riqueza no estilo socialista, o que, juntamente com uma possível maioria democrata no Congresso, levaria o país a um duro período de intervencionismo estatal.

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